Leniência antitruste e o private enforcement: o papel colaborador do cade em tempos de consensualização

Autores

  • Igor da Silva Gomes Centro Universitário 7 de Setembro
  • Fábio Campelo Conrado de Holanda Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7)

DOI:

https://doi.org/10.24067/rjfa7;20.3:1776

Palavras-chave:

Leniência Antitruste., Persecução Privada., Consensualização.

Resumo

A complexidade crescente das infrações anticoncorrenciais exigiu a incorporação de novos mecanismos de investigação pelo public enforcement, levando à criação do programa de leniência brasileiro, regulamentado pela Lei Federal nº 12.529/2011 e pelo Regimento Interno do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (CADE). A referida Lei também normatizou o private enforcement, permitindo a ação de reparação civil pelos prejudicados por danos concorrenciais. Na prática, observa-se que a persecução privada enfrenta resistência na pública, especialmente quanto à confidencialidade dos acordos de leniência. Contudo, o equilíbrio entre as formas de enforcement é essencial para um mercado equilibrado e competitivo. Utilizando o método dedutivo, foi realizada uma revisão bibliográfica na doutrina e na legislação pertinente, propondo-se caminhos para resolver esse dilema e aperfeiçoar a política de combate aos ilícitos antitruste. A pesquisa examinou o movimento de consensualização da Administração Pública e suas repercussões no direito concorrencial, analisando o papel colaborativo do CADE na diminuição do impasse. Em conclusão, constata-se que a par de uma transformação que teve início com a Resolução nº 21/2018/CADE e a Portaria nº 869/2019/CADE, é imprescindível que o Poder Judiciário se imiscua na peculiar realidade probatória dos ilícitos concorrenciais, com deferência ao posicionamento técnico da autarquia e também que seja fomentada uma cultura de fortalecimento do consumidor e demais entes privados prejudicados para a consecução de suas demandas, conjugando o equilíbrio das duas formas de enforcement.

Biografia do Autor

Igor da Silva Gomes, Centro Universitário 7 de Setembro

Mestrando em Direito das Relações Privadas (UNI7). Especialista em Processo Civil (ESMA/PB) e em Processo Penal (UFCG). Servidor do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Email: igor.gomes@tjce.jus.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7726-0279.

 

Fábio Campelo Conrado de Holanda, Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7)

Doutor em Ciência Política pela UFRGS, mestre em Direito pela UFC, especialista em Direito Civil pela PUC/MG e graduado em Direito pela UFC. Professor no Curso de Mestrado da UNI7 nas disciplinas. Procurador Federal da AGU desde 2006, tendo experiências em gestão e oficiando no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). ORCID https://orcid.org/0000-0001-5125-5933.

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Publicado

2023-09-01

Como Citar

Gomes, I. da S., & Holanda, F. C. C. de. (2023). Leniência antitruste e o private enforcement: o papel colaborador do cade em tempos de consensualização. Revista Jurídica Da FA7, 20(3), 153–166. https://doi.org/10.24067/rjfa7;20.3:1776