A PROTEÇÃO DO DIREITO À HABITAÇÃO NO TRIBUNAL EUROPEU DE DIREITOS DO HOMEM: UMA ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
Resumo
O presente artigo visa aprofundar a compreensão dos contornos do direito à habitação, em intenso diálogo com a jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos do Homem, por considerar que a interpretação dada pelo Tribunal Europeu ao direito humano consagrado no artigo 8º da Convenção Europeia não pode deixar de influenciar fortemente a jurisprudência dos tribunais superiores dos Estados Membros do Conselho da Europa. A evolução interpretativa do referido dispositivo tem contribuído para o desenvolvimento de uma proteção ambiental mais efetiva no sistema europeu. Com efeito, somente depois de percorrerem, durante décadas, os complexos trilhos judiciais e extrajudiciais da Justiça Estadual é que milhares de afetados por violações flagrantes do direito a um ambiente são conseguem o direito de tentar demonstrar perante o Tribunal Europeu de Direitos do Homem a gravidade da ingerência na habitação. Ao mesmo tempo, fica demonstrada a absoluta insuficiência das medidas previstas, prometidas ou adotadas pelos poderes públicos. A metodologia utilizada será indutiva, com uma análise jurisprudencial do Tribunal Europeu. Conclui-se que a seriedade de injustiças territoriais que decorrem da violação do direito ambiental à habitação exige instrumentos jurídicos mais eficazes, prospetivos e não reativos, que reflitam novas abordagens, preventivas e não reparatórias.
Referências
ARAGÃO, Alexandra. Ensaio sobre a prospetividade no Direito Administrativo do Ambiente. A protecção jurídica do futuro. In: VITAL, Fezas; SOARES, Rogério. Cadernos do Centenário do Boletim da Faculdade de Direito, Instituto Jurídico, Conferências, Direito Administrativo, 2016, p. 93-128.
ARAGÃO, Alexandra. O mapeamento dos serviços culturais dos ecossistemas e a deteção de injustiças territoriais. In: _______ (Org.). As infraestruturas de dados espaciais e outras ferramentas de apoio a uma decisão justa. Instituto Jurídico, Coimbra, 2018, p. 105-118.
CANOTILHO, Gomes. Relações jurídicas poligonais, ponderação ecológica de bens e controlo judicial preventivo. Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente, n. 1, 1994, p. 55-66.
COUNCIL OF EUROPE, Directorate of the Jurisconsult. Right to respect for private and family life, home and correspondence: Guide on Article 8 of the European Convention on Human Rights. Strasbourg, 2018.
TOBLER, Waldo. A Computer Movie Simulating Urban Growth in the Detroit Region. Economic Geography, Vol. 46, Supplement: Proceedings. International Geographical Union. Commission on Quantitative Methods, June 1970, p. 234-240. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/pdf/143141.pdf.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Paris: ONU, 1948.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Nova Iorque: ONU, 1966
PORTUGAL. [Constituição (1976)]. Constituição da República Portuguesa de 1976. Lisboa: Assembleia Nacional Constituinte, 1976.
UNIÃO EUROPEIA. Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Nice: Parlamento Eurpeu, 2000.
UNIÃO EUROPEIA. Convenção Europeia dos Direitos do Homem e Liberdades Fundamentais. Roma: Conselho da Europa, 1950.
UNIÃO EUROPEIA. Diretiva 2012/18/UE de 4 de julho de 2012 relativa ao controlo dos perigos associados a acidentes graves que envolvem substâncias perigosas. Estrasburgo: Parlamento Europeu, 2012.
GERECHTSHOF DEN HAAG. The State of the Netherlands v. Urgenda Foundation, n. 200.178.245/01, julgado em 9 out. 2018. Disponível em https://www.urgenda.nl/wp-content/uploads/ECLI_NL_GHDHA_2018_2610.pdf. Acesso em: 14 mar. 2020.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Apanasewicz c. Pologne, n. 6854/07, julgado em 3 maio 2011.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Băcilă c. Roumanie, n. 19234/04, julgado em 30 mar. 2010.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Bor v. Hungary, n. 50474/08, julgado em 18 jun. 2013.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Borysiewicz v. Poland, n. 71146/01, julgado em 1 jul. 2008.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Cordella et Autres c. Italie, n. 54414/13 et 54264/15, julgado em 24 jan. 2019.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Deés v. Hungary, n. 2345/06, julgado em 9 nov. 2010.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Di Sarno and others v. Italy, n. 30765/08, julgado em 10 jan. 2012.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Dubetska and others v. Ukraine, n. 30499/03, julgado em 10 fev. 2011.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Dzemyuk v. Ukraine, n. 42488/02, julgado em 4 set. 2014.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Fadeyeva v. Russia, n. 55723/00, julgado em 9 jun. 2005.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Fagerskiold Lars and Astrid Fägerskiöld v. Sweden, n. 37664/04, julgado em 26 fev. 2008.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Flamenbaum et Autres c. France, n. 3675/04 et 23264/04, julgado em 13 dez. 2012.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Furlepa Janina Furlepa v. Poland, n. 62101/00, julgado em 18 mar. 2008.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Giacomelli v. Italy, n. 59909/00, julgado em 2 nov. 2006.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Giuseppina Smaltini c. Italie, n. 43961/09, julgado em 24 mar. 2015.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Greenpeace E. V. and others v. Germany, n. 18215/06, julgado em 12 maio 2009.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Grimkovskaya v. Ukraine, n. 38182/03, julgado em 21 jul. 2011.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Guerra and others v. Italy, n. 116/1996/735/932, julgado em 19 fev. 1998.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Halina Walkuska v. Poland, n. 6817/04, julgado em 29 abr. 2008.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Hardy and Maile v. The United Kingdom, n. 31965/07, julgado em 14 fev. 2012.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Hatton and others v. The United Kingdom, n. 36022/97, julgado em 8 jul. 2003;
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Ivan Atanasov v. Bulgaria, n. 12853/03, julgado em 2 dez. 2010.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Kolyadenko and others v. Russia, n. 17423/05, 20534/05, 20678/05, 23263/05, 24283/05 and 35673/05, julgado em 28 fev. 2012.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Kyrtatos v. Greece, n. 41666/98, julgado em 22 maio 2003;
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Lopez Ostra v. Spain, n. 16798/90, julgado em 9 dez. 1994.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. María Isabel Ruano Morcuende c. Espagne, n. 75287/01, julgado em 6 set. 2005.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Martínez Martínez et Pino Manzano c. Espagne, n. 61654/08, julgado em 3 jul. 2012.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Mcginley and Egan v. The United Kingdom, n. 10/1997/794/995-996, julgado em 9 jun. 1998.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Mileva and others v. Bulgaria, n. 43449/02 and n. 21475/04, julgado em 25 nov. 2010.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Moreno Gomez v. Spain, n. 4143/02, julgado em 16 nov. 2004.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Nikola Ivanov Galev and others v. Bulgaria, n. 18324/04, julgado em 29 set. 2009.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Oluić v. Croatia, n. 61260/08, julgado em 20 maio 2010.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Powell and Rayner v. The United Kingdom, n. 9310/81, julgado em 21 fev. 1990.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Pretty v. The United Kingdom, n. 2346/02, julgado em 29 abr. 2002.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Tătar c. Roumanie, n. 67021/01, julgado em 27 jan. 2009.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Udovičić v. Croatia, n. 27310/09, julgado em 24 abr. 2014.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Zammit Maempel v. Malta, n. 24202/10, julgado em 22 nov. 2011.
Copyright (c) 2020 Alexandra Aragão

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
O(s) autor(es) declara(m) que
a) a contribuição é original e inédita e que não está em processo de avaliação em outra revista;
b) são integralmente responsáveis pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos;
c) autorizam aos editores da RJFA7 a proceder ajustes textuais e de adequação do artigo às normas da publicação;
d) em caso de aceitação, a RJFA7 detém o direito de primeira publicação, sob licença CreativeCommons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Os autores permanecem com os direitos autorais, sendo permitida a reprodução, no todo ou em parte, com o necessário reconhecimento da publicação inicial, seja para distribuição exclusiva, seja para distribuição online, para propósito não comercial, garantindo-se as mesmas regras de licença.
Authors declare that
a) the contribution is original and unpublished and that it is not in the process of being evaluated in another journal,
b) they are fully responsible for the opinions, ideas and concepts emitted in the texts;
c) authorize the editors of FA7LR to make textual adjustments and adequacy of the article to the norms of publication;
d) in case of acceptance, FA7LR holds the right of first publication, under CreativeCommons Attribution-NonCommercial-Share-Alike 4.0 International license.
The authors remain with the reproduction, in whole or in part, with the necessary recognition of the initial publication, either for exclusive distribution or for online distribution, for non-commercial purposes, and the same license rules are guaranteed.