"Rir é bom, mas rir de tudo é desespero?"

Conteúdo autodepreciativo no contexto virtual e sofrimento psíquico

Autores

  • Larissa Fernandes Universidade de Fortaleza
  • Anthony Araújo Universidade de Fortaleza

Palavras-chave:

Memes, Redes Sociais, Ironia, Sofrimento Psíquico, Humor

Resumo

  1. Introdução

A presente pesquisa apresenta os resultados parciais de um estudo cuja ideia inicial surgiu a partir da relevância que o acesso recorrente às redes sociais assume no contexto contemporâneo, além do aumento significativo no compartilhamento de memes autodepreciativos na possível tentativa de mascarar um sofrimento interno.

O termo “meme” é um fenômeno de linguagem introduzido pelo etólogo Richard Dawkins; trata-se de uma unidade de replicação comparado ao gene que vai circulando de corpo a corpo e carrega uma informação, na qual irá circular de cérebro em cérebro. Basicamente, é tudo aquilo que é transmitido pela cultura, podendo ser chamado de imitação (DAWKINS, 1976).

Na internet, os memes têm ganhado significados a partir de brincadeiras, jogos, piadas ou comportamentos que vem se espalhando por meio de sua replicação de forma viral, sendo exposto em forma de fotos com legenda, vídeos, hashtags, entre outros meios.

Nesse sentido, o compartilhamento de memes é algo que prevalece no perfil das redes sociais dos jovens, diante disso, percebe-se um número considerável de pessoas que compartilham conteúdos autodepreciativos como forma de humor. A partir disso, surge o seguinte questionamento: Qual o impacto do compartilhamento de memes de conteúdo autodepreciativo ao atravessar os sujeitos em redes sociais?

Portanto, o presente estudo irá abordar os resultados parciais tendo como objetivo principal analisar o impacto do compartilhamento de memes de conteúdo autodepreciativo ao atravessar os sujeitos em redes sociais. Os objetivos específicos consistem em verificar o motivo mais expressivo no qual os referidos memes são compartilhados; investigar relações entre o conteúdo autodepreciativo compartilhado e a possível existência de sofrimento psíquico; examinar os traços da criação dos memes a partir de experiências ocorridas com determinados indivíduos. Em termos metodológicos, os resultados parciais do estudo ora proposto será desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa e neste sentido, Minayo (2008) propõe a importância da objetivação, acerca das teorias e conceitos mais relevantes que envolvem o tema, o uso de técnicas de coleta de dados e análise do material de forma específica e contextualizada.

 

No primeiro momento procede-se a uma revisão de literatura acerca da temática em pauta. Além disso, será utilizada a análise documental e análise de conteúdo como método de coleta de dados a partir do corpus do estudo a ser analisado, composto por memes de conteúdo autodepreciativo encontrados em Páginas do Facebook. Serão selecionadas imagens que estejam relacionadas com o foco do estudo em questão e a partir disso realizar a análise dos compartilhamentos desse conteúdo e a sua relação com o sofrimento psíquico.

2.   Referencial Teórico

Os memes de internet podem ser conceituados como um grupo de itens digitais compartilhando características de conteúdo, forma e/ou postura em comum, e que foram criados cientes uns dos outros, e são circulados, imitados, e/ou transformados por meio da internet por diversos usuários” (SHIFMAN, 2014).

Desse modo, a internet proporcionou uma maior capacidade de circulação da informação de maneira direta e o fenômeno memética de comunicação, presente nesse meio e que faz parte da cibercultura, contribui para a replicação de imagens que atingem um nível alto de compartilhamento, reinventam significados e geram conhecimento através de vídeos, imagens, sons, gifs ou frases. (GOUVEIA et al., 2019)

 

Por sua vez, Dantas (2008) indica que o sofrimento psíquico está relacionado com as tensões causadas pela individualidade na modernidade, enfatizando sua relação com o consumo sob a ótica da disputa por status, pensando-se assim, a busca de uma associação entre a cultura do consumo e o sofrimento psíquico.

 

Sendo assim, o humor acaba se constituindo como uma estratégia para reagir a esse sofrimento, isso ocorre muito hoje em dia com os memes, onde muitos se identificam e apesar de algumas imagens trazerem de forma irônica um sofrimento e ao invés de ficarem tristes por aquilo, sentem um alívio por saberem que outras pessoas passam pelos mesmos problemas.

 

O humor parece ser um jogo que integra alegria e tristeza, comédia e tragédia, criando uma própria forma de ver o mundo. O humor brinca, sua certeza é a incerteza, se diverte com o otimismo ingênuo. Faz graça com temas sérios, goza sem perder a seriedade, logo é um paradoxo no qual convivem dois sentidos contrários (SLAVUTZKY, 2014).

 

  1. Proposta de Desdobramentos da Pesquisa
  • Memes: reflexões teórico-práticas
  • O uso dos memes e suas implicações no contexto virtual
  • A expressividade dos memes e suas interfaces com a ironia
  • Do sofrimento na Sociedade Contemporânea
  • Humor e autodepreciação como forma de lidar com o sofrimento
  • Análise empírico-documental de memes do Facebook
4.   Resultados Alcançados e/ou Esperados

Com os resultados parciais dos dados analisados, percebe-se que há indícios de que o humor autodepreciativo trata-se de alguma situação referente a si mesmo, na qual se faz um comentário com a intenção de fazer os outros rirem.

Foi observado que nas interações em páginas do Facebook, por meio dos compartilhamentos de memes de conteúdos autodepreciativos, que existe uma espécie de sofrimento por parte dos internautas que acessam tais conteúdos. E muitos desses que estão passando por algum sofrimento, buscam nos memes um alívio naquele momento, usando o riso como uma “cura momentânea”.

Além disso, é possível pensar no humor como uma forma de reconhecimento das suas falhas, nas quais os indivíduos costumam se socializar com outras que também fazem os mesmos tipos de compartilhamento através da identificação, desse modo as redes sociais são capazes de potencializar tudo isso de maneira viral.

 

5.   Considerações Finais

À guisa de considerações finais, é possível verificar que o uso de memes com conteúdos autodepreciativos ocorre a partir de situações que os internautas vivenciam, tornando “cômica” uma situação vista como “trágica” numa tentativa de tornar mais fácil lidar com aquela situação.

Nestes termos, com o uso do humor autodepreciativo é possível que o sujeito ria de si mesmo, fazendo piadas do seu próprio sofrimento, ocasionando uma ambiguidade entre alegria e tristeza de acordo com a forma em que o sujeito vê o mundo e muitas vezes utilizando o exagero tanto para demonstrar a forma como aquilo o afeta, ou como uma situação que pode parecer boba ou simples pode afetar bastante, como também ser uma tentativa de superar através da banalização, fazendo com que seja mais fácil lidar com a situação.

Referências

DANTAS, Marília Antunes. O sofrimento psíquico e as tensões da autonomia na sociedade de indivíduos. Psicologia.com. pt-O portal dos psicólogos, 2008.
DAWKINS, Richard. O gene egoísta. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1976. 163 p. Traduçao de: Geraldo H. M. Florsheim.
GOUVEIA, Bianca Rocha et al. “Gretchen, mulher. A cantora!”: a fragilidade da fama e a influência do meme como processo de comunicação. Temática, Campina Grande, v. 3, n., p.124-134, mar. 2019.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo: Hucitec, 2008.
SHIFMAN, Limor. Memes in digital culture. Massachusetts: The MIT Press, 2014.
SLAVUTZKY, Abrão. Humor é coisa séria. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2014.

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Publicado

2019-06-13