AGRESSÃO CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
UM OLHAR A PARTIR DA PSICOLOGIA SOCIAL
Palavras-chave:
Agressão; Crianças e Adolescentes; Psicologia SocialResumo
Agressão vem sendo compreendida como um comportamento emitido com intenção de causar prejuízo a outra pessoa, a qual deseja esquivar-se desse ato (MICHENER; DELAMARTER; MYERS, 2005). Diversas teorias tentam explicar esse comportamento (RIBEIRO; SANI, 2009), seja de forma biológica ou psicossocial (LORENZ, 1976; PATTERSON et al, 1967). Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo elucidar questões a respeito do fenômeno violência, especificamente, contra crianças e adolescentes. Para isso, este estudo centralizará, ainda, explicações a respeito das agressões, em especial no contexto familiar, por meio de duas teorias: a Teoria da Frustração-Agressão e a Teoria da Agressão Deslocada.
A Teoria da Frustração-Agressão afirma que o comportamento agressivo é emitido após algum evento, ou seja, ele implica em um estado interno que é acionado dado algum acontecido. Essa teoria difere das teorias instintivas, pois afirma que o ato agressivo é motivado por fatores ambientais e diz ainda que a intensidade da agressão vai ser influenciada pela natureza da frustração (MICHENER; DELAMARTER; MYERS, 2005).
Um estudo aponta que incisivas agressões contra crianças podem ser explicadas por uma baixa tolerância à frustração (MARTINS; JORGE, 2009). Tal afirmação corrobora a Teoria da Frustração-Agressão, haja vista que uma discussão entre pais, por exemplo, pode ser caracterizada como fonte de frustração para um deles (ou ambos), levando a uma perda de controle e consequente violência contra o filho (BRITO et al, 2005).
Entretanto, é pertinente destacar que nem toda e qualquer violência contra uma criança ou adolescente é subsequente a uma frustração gerada por ela. Nestes casos, Denson, White e Warburton (2009) costumam caracterizar esse tipo de agressão como Agressão Deslocada, afirmando que ela tende a ocorrer, prioritariamente, contra pessoas que são afetivamente mais próximas ao agressor.
Os autores afirmam que, em muitos casos, a agressão é dirigida a uma pessoa sem que ela seja a fonte inicial de uma provocação. Em geral, tal processo acontece quando o agressor não tem poder de retaliação contra o provocador inicial e acaba voltando-a para um alvo inocente, geralmente amigos e familiares. A agressão geralmente é subsequente a uma irritação menor, que funcionará como gatilho para que o agressor responda de maneira desproporcional (DENSON; WHITE; WARBURTON, 2009).
Além disso, a agressão tende a ser deslocada, em geral, para alvos que ofereçam menor “risco” à pessoa, ou seja, a agressão contra crianças e adolescentes pode ser explicada dada a posição inferior que a criança ocupa em uma hierarquia de poder (DENSON; WHITE; WARBURTON, 2009; GARBIN et al, 2016). Dessa forma, alguns fatores podem aumentar as chances de vitimização da criança: a dependência que elas têm do adulto, sua estatura e sua tolerância à agressão (MOREIRA; SOUZA, 2015).
Diante desse cenário, agressão a crianças e adolescentes não é, muitas vezes, reconhecida como tal, haja vista que a sociedade tende a identificar essa conduta como parte do processo educativo, sendo ela, portanto, ainda muito aceita socialmente (GARBIN et al, 2016). Dessa forma, as agressões tendem a ser justificadas, dificultando a sua caracterização como problema social. Contudo, a agressão pode representar agravo à saúde e ameaça ao desenvolvimento do sujeito que a sofre (MARTINS et al, 2013).
Em decorrência da severidade das consequências de um contexto violento para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, o quadro de agressões contra essas pessoas exige cada vez mais estudos. Esse fenômeno se apresenta de maneira multifacetada, dificultando a sua análise a partir de uma teoria mais generalista sobre agressão.
Apesar de já haver leis que retratem esse tema e garantam saúde e dignidades a esse público, a mudança de atitude frente a esse fenômeno é fundamental devido às severas consequências causadas à saúde das vítimas. Dessa forma, faz-se necessária a difusão de informações a respeito das diferentes medidas de proteção para o enfrentamento do problema, haja vista que ele pode se manter ainda devido a uma crença de que a agressão é primordial como meio educativo.
Referências
DENSON, Thomas F.; WHITE, Amanda J.; WARBURTON, Wayne A. Trait displaced aggression and psychopathy differentially moderate the effects of acute alcohol intoxication and rumination on triggered displaced aggression. Journal of Research in Personality, v. 43, n. 4, p. 673-681, 2009.
GARBIN, Cléa Adas Saliba et al. Um Estudo Transversal Sobre Cinco Anos de Denúncia Sobre Violência Contra Crianças e Adolescentes em Araçatuba-São Paulo. Journal of Health Sciences, v. 18, n. 4, p. 273-277, 2016.
MARTINS, Christine Baccarat de Godoy; JORGE, Maria Helena Prado de Mello. A violência contra crianças e adolescentes: características epidemiológicas dos casos notificados aos Conselhos Tutelares e programas de atendimento em município do Sul do Brasil, 2002 e 2006. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 18, n. 4, p. 315-334, 2009.
MARTINS, A. F. et al. Violência envolvendo crianças e adolescentes: perfil das vítimas, da agressão e dos agressores. Rev Enferm UFPI, v. 2, n. 4, p. 50-7, 2013.
MICHENER, H. Andrew. DELAMATER, John D. MYERS, Daniel J. Psicologia Social. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
MOREIRA, Martha Cristina Nunes; SOUZA, Waldir da Silva. Corsaro WA. Sociologia da infância. Porto Alegre: Artmed; 2011. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 1, p. 299-300, 2015.
RIBEIRO, M. d; SANI, A. Modelos explicativos da agressão: revisão teórica. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, v. 6, p. 96-104, 2009.