Rodrigo Xavier Fernandes
Graduando do Curso de Administração do Centro Universitário 7 de Setembro
(UNI7).
Ricardo Aquino Coimbra
Professor adjunto do curso de Administração do Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7). Mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC/CAEN). Graduado em Economia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Conselheiro da APIMEC-NE desde 2006. Professor de cursos de graduação e pós-graduação da UNI7, Faculdades Nordeste/Devry (FANOR/DEVRY), Faculdade Metropolitana (FAMETRO), da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e da Escola de Negócios UNI7. Colunista do Segunda Opinião. Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da ONG Movimento Coesão Social.
RESUMO
Este artigo científico tem como objetivo geral
analisar a satisfação dos serviços para tratamento da dependência química na
modalidade de internação involuntária na Despertar Clínica Terapêutica sob a
ótica dos familiares dos pacientes. Para tanto, serão descritos os processos de
gestão de serviço, as dimensões de mensuração de satisfação da qualidade em
serviços, tangíveis, atendimento, confiabilidade, resposta, competência,
consistência, cortesia, segurança e comunicação. O método
utilizado consiste em uma pesquisa exploratório-descritiva de cunho
bibliográfico e estudo de caso a partir das variáveis de qualidade em serviços
de saúde, descritas por Zeithaml, (2009).Os resultados indicam uma população
predominantemente feminina composta principalmente pelos genitores dos
pacientes, e com a faixa etária de 34 a 54 anos, demonstrando alto índice de
satisfação com a qualidade dos serviços oferecidos aos pacientes, mesmo com
esses expressando insatisfação por estarem internados involuntariamente.
PALAVRAS-CHAVE:
Dependência Química. Internação Involuntária. Qualidade. Satisfação. Serviços.
ABSTRACT
This scientific paper intends to analyze the service
satisfaction related to addiction treatment in the modality involuntary
admission at Despertar Clínica
Terapêutica in the patient family perspective. For
this purpose, the management service processes, quality service satisfaction
measurement dimensions, tangible goods, attendance, reliability, answer,
competence, consistency, politeness, security and communication will be
described. The method used consists in a exploratory/descriptive bibliographic
research and in a case study as of quality varieties in health services,
described by Zeithaml, (2009). The results indicate a predominantly
female population composed mainly by the patients
parents, in the age group between 34 and 54 years old. It shows the high
satisfaction level in relation to the services quality offered to the patients,
despite they express insatisfaction, since they are involuntarily
admitted.
KEYWORDS: Drug
Addiction. Involuntary Admission. Quality. Satisfaction. Services.
Incluir nas rotinas de gestão
mecanismos de mensuração da satisfação dos usuários, no que tange à avaliação
dos serviços em saúde mental, tem sido muito recomendado, a fim de garantir que
as especificidades peculiares a esse tipo de serviço correspondam à demanda
descrita por pacientes e por seus familiares (BANDEIRA, et al., 2011, p.285).
Para uma melhor compreensão
do contexto hospitalar a que a pesquisa se refere, faz-se necessário reconhecer
uma epidemia causada pelo consumo compulsivo de crack no Brasil, percebendo que
o mesmo vem se espalhando rapidamente pelo território brasileiro, não excluindo
nenhuma classe social, e tornando-se cotidiano como um grave problema público
ainda desprezado por muitos e causador de grande impacto familiar e social
(SCHAURICH et al., 2012, p.1247).
Esse fenômeno tem resultado
no crescente número de internações involuntárias para tratamento da dependência
química, situação agravada pela atual Política Nacional de Saúde Mental, que
adotou mecanismos para induzir à diminuição de leitos em hospitais
especializados. Tal redução ainda não foi suprida pela rede pública para o
atendimento de pacientes portadores da dependência química (KESSLER; PECHANSKY,
2008, p. 98).
Nesse cenário, ocorreu a
migração da demanda dessa modalidade de tratamento para as comunidades
terapêuticas (CT), que passaram a se desvirtuar de sua essência voluntária e
passaram a admitir pacientes de forma involuntária em desacordo com a
legislação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária(ANVISA) em sua RDC Nº 29, de 30 de junho de 2011, em seu
artigo 19, que trata do processo de admissão do residente e que no seu inciso
II aponta como garantia da internação a permanência voluntária. Segundo Perrone
(2014, p. 569), essa foi a razão para a discussão sobre as comunidades
terapêuticas pelo Ministério da Saúde em sua “Política para a atenção integral
a usuários de álcool e outras drogas”, que originou a regulamentação pela
ANVISA em sua RDC101/2001.
Paralelamente
é sancionada a lei no 10.216, de 6 de abril de 2001, que preconiza,
no caso de internação involuntária, em seu artigo 8º e no inciso 1º, que a
mesma deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério
Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha
ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.Conforme Barros e Serafim, (2009, p. 176), “Da mesma
forma que uma pessoa em sã consciência decide sobre si, é a família que decide
sobre um parente com transtorno mental que o prive de entendimento. O médico,
entretanto, decide nos casos em que não há família no momento ou se o risco da
não internação é extremo.”
Como consequência, denúncias
de maus tratos e cárcere privado vieram à luz, mobilizando governos, ativistas
de diretos humanos e profissionais de áreas afins, como médicos, psicólogos e
assistentes sociais. E culminaram com a publicação do Relatório da 4ª Inspeção
Nacional de Direitos Humanos: locais de internação para usuários de drogas, em
2011, que identificou diversas irregularidades em comunidades espalhadas por
todo o país.
Perrone
(2014, p. 570) ratifica que o movimento de Comunidades Terapêuticas no Brasil
sofre críticas ao longo de décadas e, muitas vezes, durante a fiscalização,
agentes públicos deparam-se com práticas sub-humanas de tratamento.
Existe um senso comum que remete ao
fato de que a satisfação nesse caso é uma construção multidimensional, portanto
as avaliações, além de preferencialmente serem feitas com medidas padronizadas,
devem favorecer à validade dos dados a serem coletados e abrangerem o maior
número possível de atores, além do paciente usuário direto do serviço em
questão (BANDEIRA, et al., 2011,p.285).
Os absurdos encontrados no
início da reforma psiquiátrica foram muitos, embora tenha havido algumas
situações em que o que aconteceu foi apenas o truncamento de informações que,
por uma interpretação errônea das partes, ou (por que não falar?), pela
ignorância generalizada da sociedade acerca dessa temática, não puderam ser
avaliadas com a devida coerência. Natural, visto que durante décadas a
dependência química era igualada à loucura e somente fora catalogada como
doença na década de sessenta.
Justamente neste contexto, a
instituição a ser estudada foi criada. Neste mesmo ano de 2011, sendo
construída para realizar a internação involuntária de acordo com os preceitos
da lei e com uma equipe multidisciplinar composta pela união entre o saber
técnico e o empírico, atuando de forma médica e terapêutica.
Segundo Barros e Serafim, (2009, p. 176), “A
essência das justificativas de uma internação involuntária está na perda da
autonomia do indivíduo, decorrente de sua doença mental, que o impede de
compreender e entender o caráter desadaptativo de seu
estado.” O que reforça que, devido à natureza involuntária da internação, a
satisfação do paciente é negativa, visto que o mesmo está recebendo o serviço
contra a sua vontade, levando-nos a uma percepção de feedback negativo sobre o serviço oferecido. No entanto, quem
contratou o serviço no momento da internação foram os seus familiares, que, de
certa forma, ainda que indiretamente, também estão usufruindo do serviço
ofertado e esses podem trazer feedbacks mais sensatos.
A relevância de proceder à
consulta da satisfação dos serviços prestados pela instituição a partir da
ótica do familiar do dependente químico se ratifica por vários prismas. “Além
da necessidade de buscar constantemente a droga, a dependência causa mudanças
acentuadas na interação do indivíduo com seus familiares, afetando suas
relações sociais e até mesmo profissionais.” (PRATTA; SANTOS, 2009, p.203).
A supracitada afetação das relações
sociais, familiares, laborais trazem em ambos os setores uma disfuncionalidade, portanto, faz-se necessário não somente
atender ao dependente químico que é internado involuntariamente, como também,
criar mecanismos e estratégias que viabilizem uma maior compreensão por parte
do familiar sobre os aspectos da doença da dependência química, bem como sua
natureza crônica, fatal e biopsicossocial.
O familiar é majoritariamente
atingido pela doença do dependente químico e muitas vezes, por desconhecimento,
coloca-se em uma posição de negação do problema, o que só agravará ainda mais a
situação dele e do dependente. “Com maior ou menor intensidade, todos os
familiares que compuseram o grupo se encontravam emocionalmente dependentes de
seus filhos, filhas, esposos ou irmãos dependentes químicos; desconheciam parte
de sua realidade; não conseguiam estabelecer limites, para si e para o parente
dependente químico [...]" (MORAES et al., 2009).
Segundo o Levantamento Nacional de
Família dos Dependentes Químicos (Lenad Família),
realizado pela Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (UNIAD) e pelo Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras
Drogas (INPAD), após uma pesquisa feita por amostragem em vinte e três capitais
de todas as Regiões Brasileiras, três mil, cento e quarenta e dois familiares
de dependentes químicos relataram um pouco do perfil da família e, assim, ficou
ainda mais plausível considerar a satisfação das mesmas como sendo o objeto
desta pesquisa.
“[...] perderam parte, ou totalmente, de sua
identidade e autonomia, passando a viver a vida do outro, a quem queriam
controlar e conduzir os pensamentos e o comportamento.” (MORAES et al., 2009).
O levantamento nos trouxe, por exemplo, a dimensão de tempo que uma família
leva para buscar ajuda para seu familiar é de três anos. Também ficou clara no
levantamento a predominância de indivíduos do gênero masculino para quem a
genitora – na maioria dos casos – é quem busca ajuda.
Vale ressaltar que quando falam de
familiares de dependentes químicos, está-se na verdade se referindo a um grupo
que muito provavelmente já desenvolveu a codependência
e, por esta razão, passa a sofrer as consequências do seu próprio comportamento
em relação ao dependente químico de forma intensa e veemente.
“Observamos atitudes de
"marcação cerrada" sobre o outro, o que se revelou como a maior causa
dos desentendimentos nas relações familiares e mal-estar na vida do membro
familiar.” (MORAES et al., 2009). Todavia, como anteriormente citado, há uma
insegurança ainda latente por parte do familiar e da sociedade quando este
vê-se na eminência de optar por uma internação involuntária, à revelia do
desejo do seu parente. Pelas razões previamente elencadas, pela quantidade de
denúncias e de situações que repercutem na mídia, cada vez que clínicas são
denunciadas, esta decisão torna-se por si só um desafio inquietante. Mais um
motivo para avaliar-se que tipo de serviço o familiar vem recebendo ao optar
pela internação involuntária de seu ente querido. “Assim, embora a autonomia
seja um dos pilares da atuação ética na assistência à saúde, há casos em
psiquiatria que a capacidade de decidir autonomamente do indivíduo está
prejudicada.” (BARROS;SERAFIM, 2009, p.
177).
Estender esta responsabilidade às
clínicas que atendem esta modalidade de internação é, sem dúvida alguma,
promover a qualificação dos serviços prestados aos atores desse contexto, a saber:
dependente e familiares e avançar no sentido de trazer cada vez mais
transparência, comprometimento e ética na prestação dos serviços de saúde
mental a que a clínica se propõe. “Nesse sentido, o papel da avaliação no
processo de gestão é o de fornecer elementos de conhecimento que subsidiem a
tomada de decisão, propiciando o aumento da eficiência, eficácia e efetividade
das atividades desenvolvidas pelo serviço ou pela organização.” (TANAKA OU;
TAMAKI EM, 2012, p.822).
A realização desse
estudo possui como objetivo geral a analise da satisfação do serviço prestado
pela ótica dos familiares dos pacientes internados e como objetivos
específicos: identificar o processo de gestão de serviços e demonstrar as
variáveis relacionadas a qualidade dos serviços.
Nesta seção são apresentados
conceitos e fundamentos existentes na literatura científica sobre o tema em
questão, que orientaram esta pesquisa. São eles: processo de gestão de
serviços; variáveis de qualidade em serviços e satisfação em serviços de saúde.
A primeira etapa realizada após
propor a referida pesquisa foi identificar o processo de gestão de serviços.
Para tanto, fez-se necessário definir o que é serviço. A priori entende-se como
serviços tudo aquilo que é executado a favor do cliente que contrata o
prestador por impossibilidade em realizar o serviço. Essa característica
permite que variados segmentos do mercado atuem como prestadores de serviços.
As definições do marketing para os serviços inicialmente eram contrárias ao que
os serviços ofereciam. Isso se dava graças a diferenças entre as
características dos bens e produtos em relação à oferta de serviços (LOVELOCK;
WIRTZ; HEMZO, 2011, p.20).
Os serviços de saúde, embora sejam,
pela própria natureza de sua demanda, serviços habitualmente contratados em
momentos de crise, em circunstâncias classificadas como difíceis, enquadram-se
sem dúvida neste segmento corporativo.
Em serviços, podem ser processados
pessoas, objetos ou informações, de natureza tangível ou intangível. As ações
tangíveis são percebidas pelas pessoas de forma física, enquanto as intangíveis
impactam a mente das pessoas ou envolvem suas percepções. Isso permite a
classificação dos serviços em quatro amplas categorias com base em processo:
processamento de pessoas, processamentos de posses, processamento de estímulo
mental e processamento de informações. Embora possam parecer muito diferentes,
na verdade, compartilham importantes características relacionadas ao processo. O
resultado é que gerentes de diferentes setores pertencentes à mesma categoria
podem obter percepções úteis, estudando um ao outro e criando, então, inovações
valorizadas para sua própria organização (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011, p.20).
Uma das constatações acerca deste
mercado em questão é a velocidade com que a prestação de serviços se
multiplica. O crescimento é tão expressivo que em menos de uma década os
índices de crescimento apontam para mais de trezentos por cento neste período
(LOVERLOCK; WIRTZ; HEMZO, 2014, p.9).
Em tempos
nos quais a qualidade é cada vez mais destacada como forte referência para
sobrevivência corporativa, foi necessário discutir e desenvolver estratégias
que permitissem aprimorar a qualidade dos serviços oferecida, o que já era praticado
na indústria. Os locais de prestação de serviço oferecem circunstâncias tão
confusas que se cogitou inclusive a inviabilidade de qualificar este segmento
(CARVALHO, PALADINI et al, 2012, p.34).
Houve
inúmeros questionamentos no contexto do segmento de prestação de serviços,
talvez por este meio possuir características extremamente peculiares. A
organização da mensuração da qualidade e seus processos necessitariam de
estratégias diferenciadas já que muitas vezes só se sabe o que vai ser
solicitado como serviço no ato da contratação do mesmo. Além disso, os serviços
algumas vezes dependem da participação de quem os contrata, o que torna ainda
mais delicada a mensuração da qualidade (CARVALHO; PALADINI et al, 2012, p.34).
Considerando-se também o alastramento
da velocidade da informação, do acesso à tecnologia e da amplitude de
concorrência, é imprescindível desenvolver ferramentas que corroborem para a
eficácia da gestão de serviços em qualquer que seja o segmento de atuação.
Sendo assim, o sentido da avaliação é direcionar as decisões de maneira que
eficiência, eficácia e efetividade sejam asseguradas (TANAKA OU; TAMAKI EM,
2012, p.821).
O crescimento do setor de serviços
tem contribuído significativamente para o aumento do Produto Interno Bruto
(PIB) mundial, bem como tem-se observado que o número de empregos gerados pelo
setor de serviços cresce mais velozmente que nos demais setores da economia.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2002),
no Brasil o setor de serviços já corresponde a cerca de 52,3% do PIB nacional.
Muitos são os conceitos de
serviços, mas segundo Carvalho e Paladini (2012, p.
329), pode-se considerar os três a seguir:
1.
As atividades do cliente na interface com o
fornecedor podem ser essenciais à prestação do serviço.
2.
A entrega ou uso
de produtos tangíveis podem fazer parte da prestação do serviço.
3.
Um serviço pode
estar vinculado à produção e ao fornecimento de um produto tangível.
De acordo com Carvalho e Paladini (2011, p. 340), numa definição simplificada,
pode-se afirmar que um serviço é considerado intangível, quando o benefício
oferecido não pode ser entregue de forma física. É heterogêneo, já que a
realização da tarefa tem como base o relacionamento das pessoas. Isso acarreta
a imprevisibilidade e heterogeneidade que envolve ações, reações, expectativas,
dentre outras. Não pode ser estocado, uma vez que não é físico.
Segundo Schaurich
et al. (2012, p.1247), a questão é que aparece de um lado o usuário de crack (e
sua família) que habitualmente estão em situação de vulnerabilidade e
fragilidade e, em contrapartida, faz-se necessário um tratamento complexo com
abordagem multiprofissional e interdisciplinar, o que não corresponde ainda à
estrutura existente para atender a essa demanda.
A produção do serviço habitualmente
necessita da participação do cliente, uma vez que o prestador é complementado
pelo contratante e vice versa. Sendo assim, ele se coloca na situação de
coprodutor do serviço. A simultaneidade relata o tempo de construção do serviço,
uma vez que não seria possível prestar o serviço, antes de o mesmo começar a
acontecer na interação com o outro. Quando isso ocorre, pode-se dizer que o
cliente possui um “alto nível de participação”.
E isso pode inclusive afetar a qualidade do serviço (LOVERLOCK; WIRTZ;
HEMZO, 2014, p.265).
“Cabe salientar que a rede familiar
e social tem um papel preponderante na aderência ao tratamento, devido à baixa
motivação dos pacientes, e no monitoramento por longo prazo durante o período
de manutenção da abstinência.” (KESSLER; PECHANSKY, 2008, p.97-98).
Exatamente nesta premissa é que se
situa a atuação da instituição a ser analisada. Embora o serviço prestado seja
o tratamento para a dependência química, os resultados dependem intrinsecamente
do envolvimento dos atores em questão. A exposição do cliente ao prestador de
serviço assume uma natureza física e tangível. Quando os clientes visitam o
local onde se realiza o serviço, é como se entrassem em uma ‘fábrica’ de
serviços, já que o serviço, na maioria das vezes, é produzido no momento do
consumo – uma visita que raramente ocorre em um ambiente industrial. Da
família, durante todo o processo e do paciente que, ao sair do primeiro momento
onde a revolta prevalece quase que em todos os casos, começa seu processo de
adesão que pode, este sim, variar de indivíduo para indivíduo e que quaisquer
que sejam os avanços ou retrocessos, impactarão no resultado final. O
comportamento do consumidor em um contexto de serviços é variável e no serviço
em questão pode-se qualificá-lo como um “serviço de alto contato”. O serviço de
alto contato acaba passando por uma interação durante todo o tempo, uma vez que
durante o mesmo os clientes estão expostos às evidências da organização, sejam
estas físicas (como espaço, decoração) ou comportamentais (atendimento e
convivência com funcionários e/ou outros cliente) (LOVERLOCK; WIRTZ; HEMZO,
2014, p.9).
Demonstrar o que de fato deve-se esperar
da qualidade em serviços constitui um outro tópico que precisa ser considerado.
Quando se analisa a qualidade de um produto, a dinâmica é menos complexa:
pega-se o produto, avalia-se o estado, a aparência e a funcionalidade e pode-se
“fechar” um parecer. No caso da prestação de serviços, esta análise é mais delicada.
São aspectos muitas vezes subjetivos que carecem de análise,a
qualidade do serviço é considerada a diferença entre o serviço percebido e o
serviço esperado (CARVALHO, PALADINI et al., 2012, p. 340).
A necessidade da participação do
cliente promove um julgamento por parte do mesmo, que não avalia somente os
resultados, mas também todo o processo da produção do serviço oferecido
(CARVALHO, PALADINI et al., 2012, p. 330).
Numa
linguagem corrente, o termo qualidade tem significados diferentes para as pessoas.
Mas recorrentemente está ligado à satisfação do cliente mediante uma combinação
que equilibra três fatores: qualidade intrínseca, custo e atendimento
(qualidade certa, no local certo e no tempo certo). Portanto, não está
necessariamente ligado ao custo, mas sim adequação ao uso de um produto ou
serviço, sob o ponto de vista do cliente, de maneira que gere satisfação
(SOUZA, 2008).
Esses fatores de complexidade
enriquecem o conceito de qualidade da atenção à saúde, no entanto,tornaram
difícil definição. Por essa razão, muitos estudiosos preferem evidenciar uma
série de dimensões da qualidade, ao invés de correr o risco de adotar
interpretações restritivas. Ao referir-se à avaliação do serviço de saúde, é
necessário saber exatamente em relação a que deseja se aferir a satisfação do
cliente. Sob esse aspecto, não é suficiente mensurar a qualidade pela eficácia
técnica, ou preocupar-se apenas com os aspectos diagnósticos e terapêuticos, ou
relacionados aos gastos, ou ainda percepção dos clientes. A qualidade em saúde
necessita obter um resultado da integração e conexão destes aspectos
mencionados (SERAPIONI, 2009, p.65).
São muitas as variáveis da
qualidade em um serviço. Conforme Zeithaml, (2009, p. 87), o termo “Dimensões da qualidade” é
utilizado para enumerar os aspectos passíveis de avaliação por parte do
cliente.
1.
Tangíveis:
refere-se às instalações, à equipe, à comunicação visual da empresa, seja
impresso ou virtual.
2.
Atendimento: nível
de atenção dos colaboradores no contato com o cliente.
3.
Confiabilidade:
habilidade em realizar o serviço prometido de forma confiável e transparente.
4.
Resposta:
disposição de auxiliar o cliente e atendê-lo de forma imediata.
5.
Competência:
possuir a capacitação e eficácia necessários para efetuar o serviço.
6.
Consistência: grau
de ausência de divergência entre o serviço descrito e o prestado.
7.
Cortesia:
respeito, educação, consideração e afetividade no contato pessoal, inclusive
telefônico.
8.
Segurança:
inexistência de perigo, risco ou dúvida.
9.
Comunicação:
manter o cliente informado em uma linguagem que se entenda.
Essas são algumas das dimensões que
podem ser avaliadas de forma a contribuir para a análise dos serviços de saúde
prestados e assim, promover a melhoria contínua dos serviços oferecidos, de
forma sistemática e dialética, utilizando sempre o “feedback” colhido como mola
propulsora para as mudanças futuras e solidificação das ações já implementadas
que têm promovido resultados positivos na gestão dos serviços de saúde em
questão.
Sendo assim, os critérios objetivos
e subjetivos devem embasar o conhecimento da percepção dos clientes internos e
externos, visando, desta forma, oferecer um melhor direcionamento de
estratégias e ações que venham a atender às demandas e expectativas dos mesmos
(FADEL; RÉGIS FILHO, 2009, p.01).
Estimar de forma planejada a
satisfação dos serviços de saúde oferecidos pela instituição especializada
escolhida tornou-se, pelas razões previamente elencadas, mas, principalmente
pela relevância dos serviços de saúde, um dos objetivos que visa proceder ao
levantamento de dados concretos quanto à satisfação dos indivíduos que usufruem
dos serviços da clínica. Trazer estes resultados irá auxiliar e promover o
envolvimento dos familiares, o que na saúde influencia diretamente o sucesso do
tratamento, concomitantemente com a redução de aspectos conflitantes do
relacionamento entre paciente e família (BANDEIRA, et al., 2011, p.284).
Obviamente,
não é a primeira vez que iniciativas como esta são tomadas no segmento de
clínicas e hospitais, no entanto, pela própria característica precursora que
envolve as clínicas terapêuticas oriundas do momento pós-reforma manicomial e a
partir do movimento e agitação criados pela publicação do Relatório da 4ª
Inspeção dos Direitos Humanos, já citado na introdução, não existem muitas
referências científicas nesse tipo pesquisa de satisfação.
Entretanto,
considerando que a dependência química é classificada no CID 10 (Catálogo Internacional de Doenças – 10ª
edição) como um Transtorno Mental, cabe
utilizar como parâmetro pesquisas de
satisfação realizadas com familiares de doentes mentais como as citações
incluídas nesta seção.
A
relevância da participação dos familiares no resultado do tratamento, nos
cuidados dispensados, na supervisão da rotina e na ministração de medicamentos
fazem com que as avaliações destes atores somem-se aos esforços da equipe para
atingir seus objetivos (BANDEIRA et al., 2011; p.284).
Ainda no
âmbito da saúde mental, o processo vem num contínuo crescer e na busca incessante
em ressignificar um sistema manicomial que durante
décadas e mais décadas, enclausurou indiscriminadamente indivíduos, aniquilando
com todos os direitos humanos possíveis e encarcerando às vezes por toda uma
vida indivíduos que nem sequer problemas mentais tinham. Dentre estas vítimas
estão uma infinidade de dependentes químicos, que, em nome de uma “saúde
mental” falida, eram medicados e despejados em depósitos manicomiais, expostos
a todo tipo de convívio, menos ao salutar.
Portanto,
também vem sendo ressignificado a cada dia o
tratamento dos portadores de Transtornos Mentais por uso ou abuso de
substâncias psicoativas. Reconhecendo a doença como enfermidade biopsicossocial
que é, e levando-se em conta o caráter comportamental que a mesma possui, a
família passa a ser um interlocutor indispensável a essa construção.
Sendo
assim, a busca pela valorização do trabalho se dá através da ressignificação
das estruturas e das relações e propulsionam as mudanças nos modelos de gestão,
em sua organização e condução dos serviços de saúde, é o que aponta (SAMPAIO
JJC et al., 2011, p. 4692).
No contexto
hospitalar, tais pesquisas são já há tempos utilizadas e servem como um
referencial na tomada de decisões dos gestores à frente da prestação dos
serviços de saúde. “A percepção do usuário é de extrema importância ao se
dimensionar o reflexo das ações que vêm sendo desenvolvidas no setor saúde, e
serve como vetor de direcionamento e planejamento do serviço.” (MOIMAZ et al.,
2010, p.1440).
Seja qual
for o contexto de saúde, particular ou privado, a mensuração da satisfação do
cliente é algo que pode nortear os avanços na humanização da prática da
medicina, dos cuidados e da atenção biopsicossocial aos pacientes
envolvidos. E de acordo com o conceito
de saúde moderno, segundo o qual saúde não representa apenas a ausência de
doença, faz-se imprescindível a busca pela humanização dos atendimentos neste
setor.
Devido ao
empenho e ao esforço de Cooperação Internacional estabelecidos entre diversos
países no final da Segunda Guerra Mundial criou-se, em 1948, da Organização
Mundial da Saúde (OMS), agência subordinada à Organização das Nações Unidas. Em
seu documento de constituição, a saúde foi enunciada como “um completo estado
de bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou
enfermidade”.
Esse
conceito contemporâneo de saúde vem sendo paulatinamente difundido e, embora já
se consiga vislumbrar uma expansão do mesmo no inconsciente coletivo, através
da promoção da qualidade de vida, das campanhas preventivas, da valorização da
vida, do esporte, da atividade física, do equilíbrio alimentar, há autores que
se posicionem contrários a ele, como descrito
a seguir: ao reagrupar as diferentes dimensões em que se insere a vida
humana (LUZ, 2006), essa perspectiva evidencia uma tentativa de superar a visão
negativa da saúde propagada pelas instituições médicas. Apesar do avanço,
várias críticas incidiram sobre este conceito. Por um lado, foi apontado o seu
caráter utópico, inalcançável. A expressão ‘completo estado’, além de indicar
uma concepção pouco dinâmica do processo – uma vez que as pessoas não
permanecem constantemente em estado de bem-estar –, revela uma idealização do
conceito que, tornado inatingível, não pode ser usado como meta pelos serviços
de saúde.
Por outro
lado, afirma-se a sua carência de objetividade: fundado em uma noção subjetiva
de ‘bem estar’, implicaria a impossibilidade de medir o nível de saúde de uma
população. Correto ou não, as pesquisas de satisfação do cliente usuário dos
serviços de saúde são irrefutavelmente um recurso para mensuração quantitativa
e até qualitativa dos serviços prestados e podem efetivamente contribuir para a
melhoria contínua do segmento em estudo. Como objetos interventores e
diagnosticadores dos serviços prestados na área de saúde também utilizam-se
ferramentas de Gestão da qualidade.
Nesta
ótica, a discussão sobre o que são as ferramentas da Gestão da qualidade tendenciam a conceituá-las como mecanismos simples de
seleção, implantação e avaliação (CARVALHO, PALADINI et al, 2012, p. 353).
No caso da
instituição especializada escolhida, conseguir mensurar a satisfação do cliente
do ponto de vista dos familiares dos pacientes será um avanço e uma comprovação
incontestável dos benefícios que uma internação involuntária pode incorrer
tanto para o indivíduo, quanto para a família do mesmo. E isso se dá porque a
dependência química atinge não somente o paciente, mas transforma a família em codependentes igualmente passíveis de ajuda e orientação
terapêutica. Além do quê, pelo próprio viés interpessoal do convívio familiar,
a família neste caso, possui um papel de coadjuvante do tratamento, na medida
em que, ela poderá durante o acompanhamento do tratamento identificar e relatar
nuances e aspectos comportamentais que lhes sejam familiares ou atípicos
corroborando então para a adequação do plano terapêutico singular que é
atribuído a cada paciente.
A estratégia utilizada para
responder à problemática em questão condiz com a proposta de humanização do setor
saúde, pois propõe uma mudança no modelo de prestação de serviços na internação
involuntária de pacientes portadores de Transtornos Mentais provocados por
abuso de substâncias psicoativas, uma vez que foi realizada a partir de ações
voltadas para a atenção centrada na família, através de equipe
multiprofissional que deve estar preparada para conhecer a realidade das
famílias, suas características sociais, demográficas e epidemiológicas.
Segundo Matias-Pereira (2012, p.
31), “método é um conjunto de procedimentos, técnicas e regras adotadas em uma
pesquisa científica. A definição do método está relacionada à natureza da
pesquisa que será desenvolvida”. A
técnica utilizada contou como procedimento a documentação direta, através de
pesquisa de campo realizada por meio de questionários anônimos permitindo que
os familiares respondessem livremente e tendo assegurado o sigilo das
informações fornecidas.
Quanto aos objetivos a
estratégia escolhida possui característica exploratório-descritiva, uma vez que
realizou levantamento bibliográfico e entrevista com os usuários do serviço que
receberam os serviços e, portanto, possuem respaldo empírico para opinar acerca
do problema pesquisado (MATIAS-PEREIRA, 2012).
A oferta de escuta promovida
com a análise da percepção dos usuários irá corroborar para a melhoria contínua
da prestação dos serviços de saúde que implicam a internação involuntária de
indivíduos afetados pela dependência química.
Sobre os meios de investigação,
utilizou-se dos procedimentos de pesquisa documental, observação direta
intensiva e extensiva.
Quanto ao local, os instrumentos
foram aplicados in loco, e diretamente ao público sujeito envolvido na pesquisa
de satisfação realizada nas reuniões regulares de atendimento às famílias dos
pacientes.
De acordo com Marconi e Lakatos (2010, p.
169), pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir
informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura
uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, de
descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.
A vantagem do trabalho de campo é
possibilitar um estreitamento do pesquisador com a realidade sobre a qual
estabeleceu o questionamento, além de promover uma interação com os indivíduos
o que auxilia a construção de um conhecimento empírico relevante para quem
realiza a pesquisa social. (MINAYO MC 1993, p. 61). Favorece o reconhecimento
em detalhes das características do questionamento formulado e promove uma
movimentação mais acertada e eficaz ao longo da pesquisa.
Em relação à natureza da pesquisa,
é quantitativa, já que o questionário aplicado é composto por questões
objetivas que apresentaram um percentual claro de satisfação ou não do
atendimento ofertado.
As raízes da pesquisa quantitativa
estão no pensamento positivista lógico e por isso enfatizam o raciocínio
dedutivo e os aspectos mensuráveis da experiência humana (POLIT, BECKER E
HUNGLER, 2004, p. 201). A pesquisa
quantitativa oferece um menor enfoque na interpretação do objeto, no entanto o
alcance do estudo no tempo é instantâneo e proporciona um aspecto do quadro
teórico e das hipóteses definidos rigorosamente (FONSECA, 2002).
Um estudo de caso caracteriza-se
por ter seu objeto bem definido, seja ele um programa, um sistema educativo, um
grupo ou uma instituição, como é o caso. Nela não é intenção do pesquisador
intervir sobre o objeto mas sim, trazer à tona uma percepção real do mesmo (FONSECA,
2002).
A Despertar Clínica Terapêutica,
instituição escolhida para a aplicação desta pesquisa, terá avaliada a
satisfação dos serviços prestados no tratamento da dependência química, na
modalidade de internação involuntária, a partir do ponto de vista do familiar
do dependente. A escolha deste grupo deve-se ao fato de os atores envolvidos
estarem intrinsicamente ligados à história de uso e abuso de substâncias
psicoativas, pela proximidade do paciente e pela afetação que o uso provoca em
suas rotinas pessoais.
A população-alvo avaliada foi o
grupo composto por familiares de pacientes da clínica despertar que possui uma
média de internos que se aproxima dos sessenta pacientes. Partindo da premissa
que habitualmente entre um ou dois familiares frequentam as reuniões do
acompanhamento familiar proposto pela clínica, este grupo é de sessenta a
oitenta pessoas. Sendo assim, uma amostra aleatória de quarenta e cinco pessoas
atendeu satisfatoriamente o caráter científico da pesquisa.
Quando se faz uma análise
quantitativa, embora haja uma generalização pela amostragem aleatória e pela
estatística inferencial, essas técnicas em nada interferem numa pesquisa
qualitativa (RICHARDSON, 2007, p. 101).
A escolha de um desenho de pesquisa
deve-se alicerçar na pergunta ou hipótese de pesquisa traçada para o
estudo. Sendo assim, o questionário é o
instrumento de coleta de dados escolhido e é constituído por uma série ordenada
de perguntas objetivas, visando levantar opiniões, crenças, sentimentos
expectativas, interesses sobre situações vivenciadas (SOUSA; DRIESSNACK;
MENDES, 2007, p. 15).
A elaboração do questionário seguiu
uma ordenação das questões que contemplem os tipos, a ordem, os grupos de
perguntas, sua formulação.
As questões fechadas
seguiram uma escala de conceitos entre ruim, regular, bom e ótimo. Desta forma
foi possível levantar a percepção das variáveis da qualidade no serviço.
A fim de evidenciar as
possibilidades de falha no instrumento, foi realizado o pré-teste do mesmo e a
partir da análise dos dados, após tabulação, não foi encontrado indício de
inconsistência ou complexidade das questões, ambiguidades ou linguagem
inacessível, perguntas supérfluas ou que causem embaraço ao informante. O
pré-teste do questionário foi realizado nas dependências da instituição,
durante grupo de atendimento familiar montado especificamente para este fim.
Participaram cinco clientes voluntários que espontaneamente contribuíram com a
pesquisa.
O convite para participação na
pesquisa foi feito mediante exposição da proposta no início das reuniões
semanais de atendimento familiar com intuito de sensibilizar voluntários a
responder o instrumento de pesquisa, focando na importância de terem sua
opinião ouvida e analisada para contribuir com o aprimoramento da prestação dos
serviços já oferecidos.
O procedimento metodológico inclui
desde o tipo da pesquisa quanto às técnicas de coleta e análise de dados. O
caráter exploratório-descritivo escolhido para responder ao questionamento
formulado na referida pesquisa nos reporta a uma sistematização construída afim
de colher os dados, analisá-los e organizá-los de maneira que seja traçada uma
conclusão que permita promover a melhoria dos serviços prestados.
A coleta de dados consiste na busca
de informações que venham a elucidar o questionamento que o pesquisador quer
revelar. Para tanto, o instrumental
técnico foi elaborado pelo pesquisador considerando a validez, a confiabilidade
e a previsão (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 113).
A referida coleta de dados foi
realizada nos meses de agosto e setembro de 2017 durante as reuniões de
atendimento familiar, sem que haja repetição de participantes quando os mesmos
se fizerem presentes em mais de um dos eventos.
A tabulação consiste na
padronização e codificação das respostas obtidas, é uma forma organizada de
apresentar resultados numéricos que facilita a leitura, compreensão e futura
análise dos resultados (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 114).
O tipo de tabulação de
dados utilizado foi o gráfico, cada questão respondida, resultou em gráfico com
percentuais que facilitaram a análise e descrição do grau de satisfação
apontado pelo cliente (SILVA JR; COSTA, 2014, p. 2).
Segundo Souza Jr, et al. (2010,
p.33) “embora as fases de uma pesquisa científica não sejam dissociadas, o
momento da análise ou tratamento dos dados intui a compreensão do que foi
coletado, com o propósito de confirmar ou não os pressupostos da pesquisa.”
De acordo com Prodanov
e Freitas (2013, p.114), na análise encontra-se o momento em que a pesquisa de
fato entra em contato com os resultados e deve-se buscar não apenas
reproduzi-lo, mas avaliá-los detalhadamente de maneira que seja possível
efetuar as relações que respondam a questão formulada.
Portanto, é imprescindível que os
números obtidos na pesquisa quantitativa imprimam uma clara e objetiva opinião
do público alvo a partir do ponto de vista do pesquisador, que deve apenas
preocupar-se em descrever as tendências e o significado subjetivo implícito nos
números coletados. Para tanto, será utilizada técnica de análise própria para
métodos estatísticos, levando-se em consideração a frequência, correlação e
associação que possa destacar-se a partir o tratamento das respostas colhidas
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 115).
Na sequência apresentam-se os
principais resultados da aplicação do instrumento de coleta e suas respectivas
analises.
Em atividade desde 2012, a
instituição estudada é especializada no tratamento do alcoolismo e dependência
química. Trabalhando com uma equipe multidisciplinar composta por médicos,
psicólogos, assistentes sociais, enfermeira, nutricionista, educador físico e
conselheiro, presta atendimento para 80 pacientes involuntários por mês, o que
a coloca entre as três maiores clínicas do norte e nordeste do Brasil.
Com a aplicação da pesquisa, foi
possível analisar a satisfação dos familiares dos pacientes internados
involuntariamente na Despertar Clínica Terapêutica. A seguir, serão expostos os
resultados e suas análises.
Dos familiares pesquisados, 80% são
do sexo feminino e 20% são do sexo masculino. Quanto ao grau de parentesco
56,5% são mães, 13,2% pais, 12,6% irmãos, 13% são conjugues, 3% filhos, 1,6%
avós e 0,1% são amigos. Quanto à faixa etária, 0,6% tem menos de 18 anos, 3,8%
de 18 a 24 anos, 10,6% de 24 a 35 anos,16,3% de 35 a 44 anos, 30,6% de 45 a 54
anos, 26,2% de 55 a 64 anos e 12% com mais de 65 anos. A maioria são familiares
com idade entre 45 e 64 anos, que correspondem a 56,8% dos entrevistados.
Quanto ao processo de gestão de
serviços, comprovou-se a caracterização de serviço de alto contato a partir das
percepções dos familiares com o serviço direta ou indiretamente.
Gráfico 1 – Satisfação com o atendimento a família
Fonte:
Dados da pesquisa, 2017.
Quando
questionados de forma específica sobre itens específicos do atendimento que
demonstram o nível de qualidade através das dimensões da qualidade, conforme
citado na revisão de literatura, observou-se a predominância do alto nível de
satisfação, com 91% considerando excelente ou bom a satisfação quanto às
informações sobre as regras do tratamento; 88% mostraram-se satisfeitos com as
informações continuadas no decorrer do tratamento;100% satisfeitos em relação
ao processo de acolhimento; 93% com percepção entre excelente e bom em relação
aos cumprimentos dos prazos acordados e 98% satisfeitos com o domínio do
conhecimento do profissional do atendimento. No entanto, faz-se necessária uma
intervenção sobre como estão sendo tratadas as informações continuadas ao longo
do tratamento, devido à avaliação regular, de 12%. Uma atenção no processo das
informações sobre as regras do tratamento também seria importante, pois tiveram
avaliação de 12%, entre ruim e regular.
Gráfico 2 – Satisfação com o atendimento a família em
geral
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Quando
perguntados sobre o nível de atendimento oferecido às famílias dos pacientes de
maneira geral, somente 2,27% consideram essa atenção regular e 97,72% avaliaram
como excelente ou bom, demonstrando o alto nível de satisfação com o
atendimento e uma percepção positiva quanto a essa face intangível do serviço.
Gráfico 3 – Avaliação do Boletim terapêutico on line
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Conforme
mencionado na revisão de literatura, devido ao alastramento da velocidade da
informação, do acesso à tecnologia e da amplitude de concorrência, é imprescindível
desenvolver ferramentas que aumentem a eficácia da comunicação, contribuindo
para manutenção da percepção positiva da prestação do serviço. A Despertar
Clínica Terapêutica desenvolveu um sistema de informações on
line sobre o tratamento do paciente chamado de
Boletim Terapêutico e, quando perguntados sobre a utilização dessa ferramenta,
83,72% das famílias responderam positivamente e, sobre sua avaliação da
ferramenta, 88,89% a classificaram como boa ou excelente.
Gráfico 4 – Avaliação dos produtos do mercadinho
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Conforme mencionado anteriormente,
um serviço pode estar vinculado à produção e ao fornecimento de um produto
tangível, é o que acontece na referida instituição quando ocorre o fornecimento
de material de higiene e guloseimas através do mercadinho, por exemplo. Nesse
caso, a qualidade do serviço pode ser medida através da percepção do ciente
quanto à qualidade e variedade dos produtos oferecidos. Quando perguntados
sobre a avaliação quanto à variedade e qualidade dos produtos oferecidos aos
pacientes, foi demonstrada uma percepção de 87,18% entre excelente e boa, no
entanto, temos 12,92% dos entrevistados demonstrando alguma insatisfação
através de uma avaliação ruim ou regular, o que indica uma atenção em relação a
esses produtos por parte dos gestores.
Gráfico 5 – Avaliação especifica sobre cada área
multidisciplinar
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Entre as variáveis para avaliação da
qualidade em serviços, está a confiabilidade. E a competência, desta forma,
ficou demonstrada num alto nível de percepção destas competências. Quando os
entrevistados avaliaram, em geral, de forma positiva as áreas de atuação direta
no serviço, mais de 80% de avaliação entre excelente e boa, fica evidenciada a
competência e habilidade da equipe técnica em prestar o serviço com qualidade.
Gráfico 6 – Avaliação sobre o tratamento oferecido ao
paciente
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
De
forma geral, os entrevistados se mostraram satisfeitos com o tratamento
oferecido ao paciente, com 95,45% de avaliação entre excelente e bom. O que
evidencia a consistência entre o serviço oferecido e o serviço realizado, cumprindo
assim uma importante variável de avaliação da qualidade, conforme exposto na
revisão de literatura.
Gráfico 7 – Percepção geral sobre a instituição
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Quando perguntados sobre a percepção
geral sobre a instituição, 55,56% avaliaram como excelente; 35,56%, como boa e
8,89% como regular, levando-nos à interpretação de que as dimensões para
definição da satisfação da qualidade em serviços estão sendo atingidas, mas
cabe uma investigação mais criteriosa sobre as avaliações regulares para
identificação de variáveis que precisam ser melhoradas.
Gráfico 8 – Indicação do serviço
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Por fim, 100% dos entrevistados
disseram que indicariam o serviço prestado pela instituição para amigos e
conhecidos, corroborando o alto índice de satisfação encontrado ao longo da
pesquisa.
A pesquisa teve como objetivo
principal mensurar e analisar a satisfação dos familiares dos pacientes
internados involuntariamente e, a partir da evidência de satisfação positiva,
refutar a imagem negativa desse tipo de internação expressada pela insatisfação
do paciente que se encontra como usuário do serviço, mas, contra a sua vontade.
A avaliação foi realizada a partir
das variáveis de qualidade em serviços de saúde, de Zeithaml,
(2009, p. 87), também chamadas de “Dimensões da qualidade”, sendo elas: tangíveis,
atendimento, confiabilidade, resposta, competência, consistência, cortesia,
segurança e comunicação.
É possível concluir, a partir do
questionário sociodemográfico, que se trata de uma
população predominantemente feminina e que os genitores são os principais
familiares envolvidos no serviço com maioria na faixa etária de 34 a 54 anos.
Acerca dos pontos centrais investigados, conclui-se um alto nível de satisfação
em todas as variáveis de qualidade com alguns baixos índices de insatisfação em
algumas variáveis onde cabe uma intervenção da gestão para melhoria.
Entre variáveis de atendimento que
atuam diretamente no serviço ao paciente, a psiquiatria e enfermagem receberam
o maior índice de avaliação negativa, o que demonstra que essas áreas precisam
de maior atenção por parte dos gestores em relação aos processos internos e
atendimento.
Nas variáveis tangíveis, a variedade
e qualidade dos produtos do mercadinho também merecem atenção, pois tiveram
alguma avaliação negativa por parte dos familiares, o que denota que, devido a
sua natureza física, esses fatores estão mais em evidência aos pacientes e que
é alvo de reclamações aos familiares. Sugere-se um aumento na quantidade de
itens e revisão na qualidade dos produtos oferecidos.
Portanto, pode-se concluir que a
internação involuntária na Despertar Clínica Terapêutica possui um nível
elevado de satisfação por parte da família, o que fica comprovado quando a
totalidade dos entrevistados expressa que indicariam os serviços da instituição
a terceiros, desta forma refutando a insatisfação expressa pelo paciente
internado involuntariamente.
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ZEITHAML,
V. A., PARASURAMAN, A., BERRY, L.L. Delivering quality service: balancing
customer perceptions and expectations, Nova York:Free Pass, 2009
Apêndice A – Carta de Autorização de Participação do
Banco Santander no Estudo de Caso
Autorização de Participação da Empresa no Estudo de
Caso
Fortaleza, 03 de fevereiro de 2017.
Eu, RODRIGO XAVIER FERNANDES, aluno do Curso de
Graduação em Administração da Faculdade 7 de Setembro (FA7), sob orientação do
Prof. Me.Ricardo Aquino Coimbra, solicito permissão para obter voluntariamente
de sua empresa informações que serão utilizadas, após tratamento, na forma de
estudo de caso a ser inserido na pesquisa em andamento sobre "satisfação
dos serviços para tratamento da dependência química, na modalidade de
internação involuntária, na Despertar Clínica Terapêutica sob a ótica dos
familiares dos pacientes".
As informações declaradas nesta pesquisa serão
mantidas em sigilo, como também o anonimato da empresa e do respondente.
No aguardo do aceite, agradecemos a atenção
dispensada.
Rodrigo Xavier Fernandes Pesquisador |
|
Prof. Ricardo
Aquino Coimbra Orientador da
Pesquisa |
|
Tauama
Gonçalves de Moraes Sócio-Diretor Despertar
Clínica Terapêutica |
Apêndice B – Questionário
sobre o Perfil Sociodemográfico
1. Sexo:
( ) Feminino
( ) Masculino
2) Faixa de idade:
( ) Menor de 18 anos
( ) 18 – 24 anos
( ) 24 – 35 anos
( ) 35 – 44 anos
( ) 45 – 54 anos
( ) 55 – 64 anos
( ) 65 anos ou mais.
3) Grau de parentesco:
( ) Mãe
( ) Pai
( ) Irmão / Irmã
( ) Esposa / Marido
( ) Filho
( ) Avós
( ) Amigos
Pergunta |
Avaliação do familiar |
|||
Ruim |
Bom |
Regular |
Excelente |
|
|
|
|
|
|
Qual a sua avaliação
quanto a informações sobre as regras do tratamento? |
|
|
|
|
Qual a sua avaliação
quanto a informações no decorrer do tratamento? |
|
|
|
|
Qual a sua avaliação em
relação ao momento do acolhimento? |
|
|
|
|
Como você avalia a pessoa
que lhe atendeu quanto ao domínio do conhecimento sobre o assunto? |
|
|
|
|
Qual a sua avaliação
quando ao cumprimento dos prazos acordados? |
|
|
|
|
De forma geral, qual a
sua avaliação quanto ao atendimento a família? |
|
|
|
|
Qual a sua avaliação
sobre o boletim terapêutico on-line? |
|
|
|
|
Qual a sua avaliação
quanto à qualidade e variedade dos produtos do mercadinho? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação quanto à área da psiquiatria? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação quanto à área da psicologia? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação quanto a área do aconselhamento
dos 12 passos? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação quanto à área da nutrição? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação quanto à área de educação física? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação quanto à área da enfermagem? |
|
|
|
|
Quanto ao tratamento
oferecido ao paciente, qual a sua avaliação de forma geral? |
|
|
|
|
Qual a sua percepção
geral em relação à instituição? |
|
|
|
|
Você indicaria a
Despertar a amigos e conhecidos? |
( ) Sim |
( ) Não |
|
|